Muita solidariedade e ânimo <br>para resistentes à fuga da Triumph
CONCERTO Com mais de mil pessoas e 160 artistas, durante mais de cinco horas seguidas, a solidariedade com a luta dos trabalhadores da antiga Triumph encheu o pavilhão do Sacavenense, no domingo, 18.
Vozes da Cultura juntaram-se ao clamor que reclama justiça
Ainda as portas não se tinham aberto, já os grupos de percussão e metais mostravam danças e performances a quem se ia juntando na entrada do pavilhão, antes das apalavradas 16 horas.
Organizado pela União dos Sindicatos de Lisboa (USL/CGTP-IN) e o Sindicato dos Trabalhadores Têxteis, Lanifícios e Vestuário do Sul, com o apoio da Câmara Municipal de Loures, o «concerto solidário» reuniu mais de mil pessoas. A lista de artistas anunciada dias antes foi aumentada com vários nomes. As actuações foram geralmente pontuadas com calorosas palavras de estímulo e solidariedade às lutadoras da emblemática fábrica.
Na plateia, com amigos e familiares, estiveram muitos trabalhadores da Triumph, incluindo reformados, a partilhar o misto sentimento de orgulho, pelo resultado da sua luta colectiva, que evitou a depredação do património; de tristeza, pela forma como a multinacional, detentora da conhecida marca de roupa interior, desportiva e de banho, decidiu a deslocalização, usando a Gramax para fugir às suas responsabilidades; de preocupação quanto ao futuro, balançada com a esperança de que seja encontrada uma solução para retomar a produção e aproveitar a sua mão-de-obra qualificada.
Unidade e combatividade
Em Janeiro, durante vinte e dois dias, em unidade e com uma combatividade provada em batalhas anteriores, os trabalhadores cumpriram turnos junto ao portão principal, zelando pelas máquinas e pela produção. A solidariedade expressou-se em inúmeras mensagens de apoio, nos alimentos quentes, no impermeável, nos latões, na madeira e mesmo na instalação de um stand com casa-de-banho, minimizando o sacrifício.
A insolvência da Têxtil Gramax Internacional (denominação da empresa à qual a fábrica foi entregue pela Triumph em Setembro de 2016) foi confirmada pela administradora judicial no dia 24 de Janeiro.
Faltaram três anos para esta unidade produtiva cumprir seis décadas de laboração. Foram condenados ao desemprego 463 trabalhadores, antes nomeados pelos patrões como «a mão-de-obra mais especializada que havia» na «unidade de produção com mais qualidade da Triumph International», lembrou Mónica Antunes, ao subir ao palco para falar em nome dos trabalhadores, distinguindo «a presença constante do PCP quer pelos apoios materiais e humanos quer pelas propostas levadas à Assembleia da República».
Noutra breve intervenção, Manuela Prates, dirigente do sindicato, referiu a importância deste «enquanto organização», assinalando que, contudo, «se não houver consciência por parte dos trabalhadores, podemos querer fazer muita coisa mas a luta não se desenvolve».
«Esta luta, que correu o País e o Mundo, vai ser útil para muitos outros trabalhadores, dando-lhes ânimo para que lutem pelo que é seu e atinjam os seus objectivos», disse Bernardino Soares. O presidente da CM de Loures reafirmou que esta deve «estar do lado certo, sempre que as situações o exijam», e voltou a insistir no apoio a todos os esforços pela manutenção da fábrica.
Nuno Almeida, em nome da USL, sublinhou que, «não fossem a unidade e a luta tão fortes, e ainda não estariam garantidos os meios de assistência nem defendidas as máquinas».
Constituído em «abraço de reconhecimento pela luta» travada, nas palavras dos apresentadores Cândido Mota e Mafalda Santos, o concerto não esgotou a luta pelos salários e pelo relançamento da Triumph. Os trabalhadores da Cultura, que «são povo» (Toy), sabem «bem o que é o desemprego» (Coro de São Domingos) e «a precariedade laboral» (Celina da Piedade). Na luta, «nada está adquirido» mas fica «ao nosso alcance» (Samuel), com «coragem de lutar por aquilo que queremos» (Sebastião Antunes) e «bem unidos conseguimos sempre» (maestro da ANALOR). Atentos «desde a primeira hora, lembrando 1986, quando íamos para os ensaios e nos cruzávamos com os trabalhadores da Triumph» (Peste & Sida), sentindo «com emoção o sofrimento» vivido (Luísa Amaro), erguendo o punho, como Vitorino, os Hill’s Union, Marília de Sousa e a orquestra Santa Iriense, os artistas tiveram por resposta, de um mar de gente em uníssono, «A luta continua!».
De entrada livre, no concerto prosseguiu a recolha de fundos a favor dos trabalhadores, que não recebem salários desde Novembro, mês que lhes foi pago incompleto. Ficou-se entretanto a saber que, hoje ou amanhã, deverá começar a ser pago o subsídio de desemprego.
Entre as personalidades que marcaram presença, estiveram o Secretário-geral da CGTP-IN, Arménio Carlos, e outros membros da Comissão Executiva da central, e o Secretário-geral do PCP.
Jerónimo de Sousa, numa breve declaração aos jornalistas, destacou a importância desta iniciativa, reunindo tanta gente que tem estado ao lado dos trabalhadores, na maioria mulheres, nesta luta. Enfatizou que «estas trabalhadoras perderam um bem precioso, que é o seu emprego, mas nunca perderam a dignidade e a coragem para lutar pelos seus direitos, para potenciar esse clamor de justiça de que bem precisam» e «merecem da parte do PCP a nossa profunda solidariedade e admiração e, por isso, as acompanhamos desde a primeira hora».